O algodão da tua pele - Lygia Camelo Santiago

 



"O algodão da tua pele" é um dos livros da escritora brasileira Lygia Camelo Santiago e, preciso dizer, que livro inspirador!

As descrições do cenário - tanto do Siará quanto do Rio de Janeiro - são maravilhosas e nos transportam, no tempo e no espaço, para o Brasil do século 19.

 Maria é a filha de um fazendeiro português, Manoel, velho chato e ranzinza por quem nutri ódio permanente durante todo o livro, com uma índia que morreu pouco depois de parir. Como o macambúzio é um cretino de marca maior, deixa a fazenda aos cuidados da filha e reclama O TEMPO TODO, menosprezando a guria.

Ela, por outro lado, está recheada do "dever filial". Exceto para todo o resto. Ela é subserviente ao pai, mas mão de ferro com todo o resto. Carrega, portanto, incontáveis apelidos.

Certo marquês de Huntley chega na propriedade de um vizinho inglês, Smith, e logo se encanta com a visão e o gênio forte de Maria.

Primeiro, temos um enemies, mas não demora a chegar aos lovers. Antes dos 40% do livro eles já se amam - por mais que não se assumam.

E aí começa a questão: quando eu vi que ainda faltava MUITO pra acabar, pensei "danou-se".

O livro não é pesado, não tem grandes tramóias e autora não trabalhou problemas banais que costumam permear relacionamentos - mentiras fracas, brigas tolas, o diário lido sorrateiramente. Graças a Deus!

Pelo contrário, é a primeira vez que leio um livro que tem a descrição "pós-crédito" do casamento. A dor de perdas, as vitórias, a força da protagonista.

Revoltei-me com alguns destinos - Jane, por exemplo - e esperei que alguns personagens tivessem outras faces - como Cassandra e Teresa. Achei, também, que certo ex-funcionário faria uma "aparição" vilanesca. Para grata surpresa, a autora fugiu do óbvio.

É um livro longo e, por vezes, lento. É daqueles que a gente degusta com café e bolo, capítulo a capítulo, apreciando um bucolismo interiorano encantador. A autora fez questão de colocar, da fala dos personagens à descrição das festas e refeições, muito do Siará. E certamente é isso que faz esse livro ser único.

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Achei divina a menção a Camões (mais até do que Burns):

Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Numa hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar uma hora.

Se me pergunta alguém por que assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora.