Famine - Laura Thalassa



Nesse terceiro livro sobre os Cavaleiros do Apocalipse, de Laura Thalassa, enfrentei um dilema.

Depois de ficar feliz ao ver que se passa no Brasil, comecei a sentir uma raivinha leve.

Estava lá, Ana, andando pela floresta bem sozinha quando se deparou com pedaços de um homem. P.E.D.A.Ç.O.S. "Ah, acho que ele está morto", ela pensou. Mas o pedaço-cabeça gemeu. 

Com 17 anos, a órfã ouviu falar sobre um dos mensageiros do mal ter sido capturado. "Será que é ele?" (claro, é a conclusão lógica, né?!)

Coração piedoso, arrasta o cara para um casebre e tenta cuidar dele. Aos poucos, pedaços vão se regenerando (que nem minhoca) e o criatura volta à sua glória.

Assim que ele levanta, irritadíssimo depois de ter sido torturado pelos humanos nojentos, destrói a cidade dela e o entorno em um estalar de dedos. De pé, apenas a menina.

"Vamos comigo, mortal" - ele diz. E a menina de 17 anos, que perdeu a única família podre que conhecia (a tia cretina e os primos), diz que não.

O cara dá de ombros e vai embora.

Cinco anos depois, ela é uma prostituta vulgar. E aí comecei a ficar com raiva. Me julguem.

A cafetina leva Ana e a oferece ao cavaleiro, que rejeita veementemente. Então, as duas são arrastadas para um poço e assassinadas. Ana apaga com a dor, mas acorda no meio de corpos mutilados e odores fétidos.

Ela levanta - heroicamente não morreu mesmo tendo perdido sangue a balde - e decide se vingar. A história, daí pra frente, é igual às outras duas. Uma mocinha com raiva que começa sendo a fixação do cavaleiro, acompanhando-o em seu trabalho estrada afora.

Para quem é brasileiro, o livro traz suas menções honrosas a nomes (Curitiba, São Paulo...), mas também traz alguns erros dolorosos - como confundir os traficantes de drogas brasileiros com os cartéis sul-americanos. Dos casarões cercados por homens armados à maneira como descreve os personagens. É tenso.

Depois que ela quase morre, Ana e Fome decidem se casar - que lindo! Arrumam uma casinha em Taubaté e começam sua rotina doméstica. Aí, ele percebe que o mundo dele vai acabar quando ela morrer e tem uma crise de pânico. Então, irmãozão Morte aparece.

"Meu irmão saiu do caminho por sua causa, Ana". Pá! Mata a Ana.

Fome perde os sentidos e tem uma crise de fúria. Ataca o outro, bate, soca, se irrita, enfia a foice. Mas Morte é soberano. 

"Se quer sua humana de volta, aceite minha barganha. Acabe com o mundo e eu deixo ela pro final."

Fome aceita, Ana volta à vida.

Irritada e desbocada como se supõe que todas as prostitutas brasileiras são, mete a faca no moço. "Ah, agora vc vai conhecer o sabor da morte etc etc etc".

Ainda assim, ela e seu noivo saem a cavalo para dizimar o mundo pela barriga. "Vamos procurar meus irmãos", ele diz, porque provavelmente é uma boa ideia despertar a Pestilência e a Guerra de novo só para lidar com a Morte. 

Por outro lado, como eu disse no começo desse desabafo, tem uma das melhores declarações de amor que já li (e isso fez ganhar 4 estrelinhas!):

"Nunca imaginei que poderia amar a curva do seu nariz ou o espaço entre seus olhos. Eu sei que você é considerada bonita nos padrões humanos, mas eu não tenho padrões humanos, Ana, e você é a coisa mais linda que eu já pus os olhos. Até quando dorme com a boca aberta. Até quando grita comigo - e especialmente quando grita comigo, porque eu amo o seu fogo. Você foi feita da terra e posso sentir o universo se mover através do seu corpo. [...] Nunca amei um humano. Lutei com tudo o que eu tinha. Você é tudo o que eu não deveria querer, mas s sua compaixão me perfurou mais fundo do que uma lâmina.[...] Já senti a terra se mover, o ranger das rochas conforme as montanhas se mexiam e o mundo se transformava... Nada me preparou para você." (como li em inglês, essa tradução é minha)

Vale a leitura? Sim. É um bom livro. Não é o melhor de todos, mas tenho grandes expectativas quanto ao enredo do Morte - Tânatos.


PS. Disponível no K.U.

PS2. Não curti a capa.