
Publicada originalmente em abril de 2016, o repost de hoje traz uma das minhas críticas mais densas.
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Como um revisor faz falta... Muita falta!
Já mencionei aqui outrora que a modinha é "homem problemático - virgem salvadora - final feliz". Normalmente, termina com gravidez. Um saco!
A série "A Obsessão do Bilionário" não é diferente. Pelo contrário. É um "mais do mesmo" tão escrachado que chega a ter as mesmas palavras e expressões dos demais. Quem veio primeiro: o ovo ou a galinha? Não sei.
A Amazon achou um nicho, aberto para qualquer porcaria que se queira publicar, e cumpre seu papel de insistir nas promoções. Eu, coitadinha de mim, compro. A Amazon não é editora, não faz triagem, não revisa e não está nem aí para isso. Ganha royalties das vendas. Para o site, está excelente o acordo. Para os leitores, nem tanto. A falta de "capricho" é um pecado mortal das obras. Obviamente sem revisão, os livros são piores que os romances de banca com nome de mulher.
Mas vamos ao Bilionário.
Li os 4 livros em cerca de 7 horas, mas foi mais por vontade de resenhar do que para saber o final. Eu soube o final na página 2. Podia, inclusive, ter devolvido para a Amazon e recebido de volta R$ 15,97. Mas, paciência... Não vou chorar o leite derramado.
Além de extremamente repetitivo - falta uma ortografia variada - os diálogos são inverossímeis. Não posso colocar a culpa exclusivamente na autora - boa parte do problema é a tradução. Sim, a estória é fraquíssima fraca, mas eu nem sou tão chata exigente assim. Eu já compro este tipo de livro por considerar leitura leve e breve, mas espero um mínimo, especialmente de uma série considerada bestseller do NY Times com 4 1/2 estrelas na avaliação dos leitores da Amazon. Não é brincadeira, pessoal! É isso mesmo! NY Times e quase 5 estrelas, acredite se quiser!
Vamos às vacas frias, afinal. Simon é bilionário, lindo, com um passado obviamente sombrio. O livro começa descrevendo-o como um perseguidor de Kara - obcecado, na visão precária da autora. Ela é uma mulher pobre, estudante de enfermagem que trabalha no restaurante da mãe do cara e se vê perdida na rua escura. Coitadinha.
Simon a acolhe, alimenta e leva para a própria casa. Oferece o céu em troca de uma noite de amor ardente e entregue. Ele quer domina-la. Trata ela como prostituta. Mas ela nem liga, ainda que a autora tenha tentado laconicamente colocar conflitos na mente da criatura.
Christian Grey Simon Hudson consegue em poucos dias a noite de amor que queria. Algema e venda a menina, dá a ela a "melhor noite da vida dela" e eles praticam sexo sem camisinha. Super comum, né não? Acontece todo dia na vida real - só que não. E acho ótimo que ela estimule "nada entre nós", especialmente porque não há classificação etária para livros. Parabéns, Scott, você perdeu o meu respeito!
Kara aceita, notoriamente conquistada pelo luxo (ainda que a autora insista em dizer que ela não liga para isso), pensa que foi apenas uma noite mas decide ajudar o homem. Ela é uma moça de princípios, oras. Fica lá, sempre molhada e disponível, preparada para dar a ele o seu mel (acabei de ler e estou impregnada com as expressões do livro). Também super comum. Mulheres tem uma facilidade incrível de lubrificação - nos livros.
A obsessão dele passa para ela - como uma doença contagiosa.
Na segunda noite de "trepada" (palavra que deve ter sido usada no mínimo 100 vezes ao longo dos livros), o problemático cara já não "precisava" mais ser dominador. Fica feliz com sexo convencional, aceita ser tocado e "jorra dentro dela" (apenas um dos clichês). Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas, aprendam como curar um trauma!
No aniversário dele, ela o vê com outra mulher e nem fica tão deprimida porque ela "sabia que era só um caso de uma noite". Se muda da casa do cara e ele fica devastado. Pouquíssimo tempo depois, é atacada na rua por meliantes, vai parar no hospital. confessa que ama ele, supera imediatamente o problema da loura perfeita que beijou o bofe e volta pra casa dele.
Ele fica feliz, conta pra ela que quase morreu esfaqueado na primeira noite de sexo da vida e eles voltam a "trepar" até que a morte os separe.
Honestamente, já li esse enredo antes.
Não entendo a "Síndrome de Princesa", que faz com que as mulheres sintam essa necessidade de serem protegidas obsessivamente por homens dominadores - mas só por príncipes ricos, né?! Por que precisam ser domesticadas? Por que isso virou best seller?
J. S. Scott é americana - talvez por isso faça sucesso por aqui - casada e feliz para sempre. Uma senhora de idade, com cabelos brancos e um sorriso bem amistoso.