O último dos canalhas - Loretta Chase

Segue uma resenha que fiz lá em 2016. Devo fazer a mea culpa - adoro os livros da Loretta Chase, e O último dos canalhas se tornou o meu favorito.

Como as coisas mudam, não é?!


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Eis que cedi aos encantos canalhas de Loretta Chase novamente... Sim, podem me crucificar!

"O Último dos Canalhas" é um livro muito - muito - parecido com "O Príncipe...": o canalhão bonitão e bem humorado que encontra uma mulher geniosa pela frente.

Já disse algumas vezes (por aqui, não sei) que não gosto de livros com capa de pessoas. Eu fico presa à maldita imagem e não consigo viajar na feitura do meu próprio personagem. Então, Vere (o canalha) teve essa cara aí da capa - que particularmente não me anima muito.

Nessa história, Vere conhece Lydia, uma repórter geniosa e solteirona (28 anos), espirituosa e destemida, intrépida e virgem. Passam a ter embates animados pelas ruas, debochados, sarcásticos, inteligentes e alfinetantes.

O livro é óbvio. O canalha termina com a moça. Mas vale quase todas as páginas pelo tom da narrativa e pelas inúmeras sensações que passa ao leitor. Em alguns momentos, dá vontade de rir. Em outros, o calor deles passa pelo livro e entra na gente. Loretta consegue ir mesclando o ponto de vista de dois narradores de terceira pessoa - um para cada personagem principal - e estes narradores conduzem a história como se enxergassem apenas o que está vivendo aquele personagem. Então, temos os dois lados da moeda.

A autora nos mostra o que Lydia está sentindo, porque ela pensou que ele tomou certa atitude e o que ela sentiu com relação a isso. Logo depois, nos permite enxergar pelo ângulo de Vere. Em um determinado ponto, ela acha que ele seguiu uma direção (bordel). Seu narrador exclusivo mostra a frustração dela no momento, tudo que ela pensou. Parágrafos depois, o narrador exclusivo de Vere conta a versão dele (agarrou o cabriolé que ela estava e foi pendurado atrás).

Ele a segue, a salva, se envergonha, se humilha, corre atrás dela, se mostra honrado (sim, acreditem) e heroico; ele cede, mas sem dar o braço a torcer. Ele é um corpo forte de alma frágil.

Logicamente, assim como no "Príncipe...", há cenas de paixão (e luxúria) na rua, beijos roubados, braços fortes e musculosos, penetrantes olhos, muito calor por baixo dos panos, anáguas, cintas e espartilhos. Há um canalha que se encanta pela primeira mulher que o enfrenta. Fórmula antiga, de certo, mas o livro prende.

A partir de 80%, eles se envolvem em definitivo. O cara pede ela em casamento, ela diz que não é do tipo que casa porque não vai se submeter nem deixar seu emprego. Claro como água de fonte, o cara já sabia disso - e foi por isso que ele pediu. Depois disso, um toquezinho de suspense/aventura com o sumiço/sequestro das duas tuteladas dele, salvas por ela, como era de se esperar.

Ele tem mágoas - a perda de um sobrinho. Ela tem rancores - um pai cretino. Ele tem rancores - o pai cretino. Ela tem mágoas - a perda da mãe e da irmã.

Confesso que algumas frases ficaram faltando em alguns diálogos - como quando ela diz pra ele porque deve anular o casamento bem na noite de núpcias. Faltou alguma coisa... E as revelações finais não são tão bombásticas como se supõe. Mas se fossem, eu diria que eram clichês ou que eram óbvias demais.

Esses pedidos de casamento dos canalhas da Loretta são inusitados, estranhos e muito inverossímeis. Mas tudo bem... Eu desculpo ela. Só dessa vez, hein? E só porque achei esse melhor que o outro.

A sinopse do livro fala em vingança por uma matéria publicada, mas não foi o que senti. Senti que o coração empedrado dos dois é amolecido pela paixão que o outro desperta, não só em termos de luxúrias, como em termos de desafios.

Loretta Chase ainda é inglesa sessentona bem apessoada e com cara de gente boa. Ainda é formada em inglês, professora e escritora amadora por algum tempo.