Não sei quando foi a última vez que um livro me emocionou dessa forma. É claro que sou uma chorona - e sinto o pesar mesmo quando odeio a personagem. Ainda assim, esse livro me tocou por motivos diferentes. Não era o pesar da personagem. Era o meu.
Então, vou começar com um trecho que deve ter sido escrito direto para os escrileitores:
"Não desista de escrever. Você encontrará as palavras que precisa compartilhar.
Elas já estão escritas dentro de você, mesmo entre sombras, escondidas como joias".
Decididamente, eu PRECISAVA ler isso.
Mas, vamos lá...
No final de "Divinos rivais", o irmão de Iris a tira de um campo de batalha e, lá, agonizando, fica Roman. Nosso querido e apaixonado protagonista - um personagem que descreve a idealização do homem incorruptível e indefectível - é encontrado pelo vilão do livro e "curado" da dor física. No processo, perde as memórias.
Começamos "Ruthless vows" sentindo o drama de Iris, que não sabe se o marido está vivo ou não, e o drama de Roman, que não lembra de nada. Aos poucos, ele começa a lembrar, mas encontra-se preso na teia de Dacre, o deus-rival da tal Enva, a deusa que a cidade de Oath defende.
Faço questão de dizer que duvido da "vilania "absoluta" de Dacre porque, ao fim e ao cabo, Enva acabou com os poderes dos deuses que matou, andando bela e solta pelas ruas e submundos de Oath. Achei até que, no final, a autora ia enfatizar que ninguém pode ter tantos poderes sem que lhe subam à cabeça. Mas isso renderia outro livro e, honestamente, ficou melhor assim. Uma história que não se arrasta indefinidamente, que sabe quanto acabar.
Voltando...
Como Iris perdeu sua máquina de escrever mágica na guerra, ela invade o museu e rouba a outra na esperança de se comunicar com Roman. Enquanto isso, a guerra rola solta e o mocinho é recrutado para escrever "a versão Dacre" da história. Para isso, recebe a máquina de escrever (que era de Ísis).
Ok. Sigamos. Íris envia uma carta aleatória pelo armário. Roman encontra. E, assim, as memórias começam a voltar e eles vão trocando cartas pelos armários da vida.
Íris vai pra guerra com a amiga Attie, que encontra o amor no motorista. Ela vê Roman, que lembra tudo. Vale mais um quote:
Roman levou a mão ao bolso, onde escondera a aliança de Íris.
"Eu torço para que todos os meus dias sejam ao seu lado."
Tudo começou a voltar no momento em que ele a tocou.
"Me permita preencher todas as brechas da sua alma."
Ele lembrou de correr na direção dela em um campo verde.
"Que a sua mão esteja na minha, dia e noite."
Ele lembrou de quando trocaram os votos no jardim.
"Que nossas respirações e nosso sangue se tornem um, até nossos ossos virarem pó."
Ele lembrou da voz dela, sussurrando seu nome na escuridão.
"Mesmo então, que nossas almas estejam juradas uma a outra."
Um calafrio correu por ele enquanto olhava a lua e as estrelas.
Ele lembrou de tudo.
Maravilhoso. Que trecho inspirador!
A partir daí, tudo encaixou na cabeça do rapaz: desde a participação do pai na insurreição de Dacre até sua ligação intensa com Íris.
"Escreva uma história para mim, Kitt. [...]
Uma história na qual você me mantém acordada até tarde enquanto digita,
e eu escondo mensagens nos seus bolsos para que as encontre quando estiver trabalhando.
Escreva uma história na qual nosso primeiro encontro foi em uma esquina,
e eu derramei café no seu casaco caro,
ou quando nossos caminhos se cruzaram na nossa livraria favorita. Eu recomendei poesia, você sugeriu mitologia.
Ou quando a deli trocou os nossos pedidos, ou quando terminamos sentados ao lado um do outro,
ou quando peguei o trem para o Oeste apenas para ver até onde iria, e você estava lá. [...]
Escreva uma história que não tem fim, Kitt. Escreva e preencha os meus espaços vazios."
Ela seguiu firme e forte até o final. Uma personagem que não se acha o centro do universo, mas luta para fazer o mundo melhorar. Ele seguiu fiel e leal a ela, até quando confrontado por Dacre. Outro trecho inspirador.
Eu traí o senhor porque amo Íris Elizabeth Winnow. [...]
E eu não suportaria viver em um mundo no qual ela fosse morta pelo seu egoísmo.
Então, eu a alertei. [...]
O senhor não me salvou, como alega. No campo de Avalon Bluff, Íris me salvou."
Posso dizer que, quando Íris colocou o bilhete no casaco de Roman (na foto lá de cima, do início desse post), ela acabou me ajudando muito também.