O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brönte




Só sei que demorei dois anos pra terminar esse livro. E essa foi a resenha que saiu na época. Não reli depois.

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Não costumo escrever sobre clássicos. Não tem muito o que dizer e, inquestionavelmente, todos valem a pena. As experiências que cada um nos proporcionam, quando consideramos autores e contextos, é ímpar. Você pode não gostar do gênero, da forma como é escrito, da concisão, da verborragia, da prolixidade, das idas e vindas. Mas toda vez, absolutamente toda vez, vale a pena pelo contexto do autor. Perceber que, em uma época na qual as mulheres não eram exatamente valorizadas pela erudição, a autora conseguiu produzir um texto dessa complexidade e construção intrincada, já faz valer a pena cada letra.

Emily Bronte e sua irmã, Charlotte, foram duas inglesas que viveram no início do século XIX. Emily - sob o pseudônimo Ellis Bell - publicou "O Morro..." depois que Charlotte já estava na segunda edição de "Jane Eyre". O livro de Emily foi muito criticado por sua densidão e acho que foi exatamente isso que me fez querer encarar o desafio.

A obra é um diálogo, com essência narrativa. Lockwood chega em 1801 para ser inquilino de uma das propriedades de Heathcliff. Lá, conhece a governanta Nelly que lhe conta a história triste dos acontecimentos do local.

Heathcliff era um menino que foi adotado pelos pais de Catherine e muito mal tratado. Apaixonado pela menina, é esnobado muitas vezes e vai se tornando amargurado. Catherine se casa com outro rapaz (vizinho) e morre, aumentando a angústia de Heatchliff.

Inquestionavelmente malvado, o personagem principal da obra passa um tempo longe e volta outra pessoa. Forte, rico e rancoroso. Desdenha de todos e consegue se tornar o dono das propriedades - dos pais adotivos e dos vizinhos.

Sobre a própria esposa, diz em um certo momento:

“-Ela abandonou tudo isso acreditando numa ilusão – respondeu ele – Fantasiou em mim um herói de romance, e esperava indulgências ilimitadas da minha devoção cavalheiresca. Mal posso considera-la uma criatura racional, tanto ela teimou em formar uma ideia fantasiosa do meu caráter, agindo de acordo com as falsas premissas que acalentava. Mas, afinal, acho que ela começa a me conhecer: não vejo mais os sorrisos tolos e os trejeitos que me provocavam no princípio; nem tampouco a insensata incapacidade de entender que eu falava sério quando lhe dei minha opinião sobre ela e sua paixonite tola. Foi um esforço fantástico de perspicácia descobrir que eu não a amava. Houve uma época em que acreditei que nenhuma lição conseguiria ensinar-lhe isso! E ainda assim não aprendeu direito, pois esta manhã anunciou-me, como uma assustadora novidade, que eu havia conseguido fazer com que ela me odiasse! Foi um trabalho de Hércules, asseguro-lhe! Se de fato consegui, tenho motivos para congratular-me. Posso confiar no que me disse, Isabella? Tem certeza de que me odeia? Se eu deixa-la sozinha por meio dia que seja, não virá suspirando, tentando adular-me outra vez? [...] ”

Por outro lado, Heatchliff é um homem atormentado por um amor que nunca conseguiu - e atormenta todo mundo ao redor. Consegue transformar Hareton nele próprio; tanto em jeito como em amor pela vizinha, Catherine (filha da homônima).

Lockwood, o inquilino, resolve ir embora. Mas volta um tempo depois (1802), de passagem pela cidade, e resolve ir ao local para descobrir como estão todos.

A partir do capítulo XXXII, Nelly já conta o que aconteceu com os personagens depois que Lockwood foi embora.

Eu esperava um final mais denso e triste, confesso. Mas a forma como é contada a tormenta de Heathcliff nos últimos momentos faz valer a pena cada uma das páginas e cada minuto de leitura.

O livro me tomou idas e vindas. Gostei, cansei, voltei, apaixonei e odiei. Agora, terminei. E digo: mesmo que se leia em pedaços, não tem como esquecer do que se trata.